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Escassez de atenção : como está afetando a vida das pessoas?

Não é novidade para ninguém que as tecnologias de informação são capazes de transformar a maneira como nos comunicamos. Especialmente as redes sociais modelaram a forma como assimilamos e interpretamos as informações. Nunca consumimos tanta informação em tão pouco tempo e de maneira tão despojada, como é o caso dos vídeos curtos e repletos de humor no TikTok.

Nas redes sociais é possível aprender sobre basicamente qualquer assunto em vídeos curtos, de 60 segundos. E não raramente perdemos a noção do tempo em uma timeline de rolagem infinita, com diversos vídeos que prendem a nossa atenção. Mas esse processo pode afetar a vida das pessoas muito mais do que elas imaginam. A escassez de atenção é o termo para quando existe uma dificuldade em manter a concentração por um longo período. Entenda o que é e a relação com os meios de comunicação.

 

Escassez de atenção: o que é?

 

 

“Em um mundo rico em informação essa riqueza significa escassez de outra coisa: a escassez daquilo que as informações consomem. O que a informação consome é bastante óbvio: a atenção dos destinatários. Desse modo uma riqueza de informação gera pobreza de atenção e a necessidade de se alocar eficientemente a atenção num cenário de abundância de fontes de informação que irão consumí-la.”

 

A frase acima é de Hebert Simon, ganhador do prêmio Nobel de economia, em 1978. A sua frase, que parece bastante atual, na verdade foi dita em 1971, período no qual os principais meios de comunicação eram a TV, o jornal impresso e o rádio.

Pense nessa frase e no tanto de informação que você consome diariamente. Segundo o significado da citação, toda informação consome algo e isso significa a atenção de quem a recebe. Em um mundo com cada vez mais rapidez nos processos de comunicação e informação, a atenção se torna rara. A escassez da atenção é um problema crescente e quanto mais as tecnologias da informação avançam, mais parece aumentar a raridade da atenção plena.

 

Tempo de atenção dos humanos é menor que de um peixinho-dourado

 

Não é exagero dizer o quanto a escassez de atenção é um grande problema. Ao longo dos tempos o tema interessou e ainda interessa muito para a ciência. Em 2013, foi realizado um estudo pela Microsoft com o objetivo de entender melhor o impacto das tecnologias de informação nos seres humanos. O resultado foi surpreendente e por mais que o título desta seção pareça sensacionalista, ele é exatamente o que o estudo provou.

A partir de entrevistas e monitoramento de eletroencefalograma, o estudo buscou medir três categorias de atenção: a habilidade de não se distrair ao realizar uma tarefa, a capacidade de manter o foco em tarefas repetitivas e também a habilidade de mudar a atenção de uma atividade para outra que exige habilidades cognitivas distintas.

O resultado mostrou que o tempo de atenção média é de 8 segundos, o que é menor do que o de um peixinho-dourado, uma média de 9 segundos. O mais interessante é observar que no início dos anos 2000, o mesmo teste mostrou que esse tempo era de 12 segundos.

 

As redes sociais têm um grande papel na escassez de atenção

 

Que as redes sociais possuem um potencial viciante, muitas pessoas sabem, mas o que muitas pessoas não desconfiam é que há uma equipe enorme por trás do grande sucesso delas. No caso do TikTok, não há nada de acidental em sua criação. A empresa emprega milhares de pessoas, entre engenheiros e executivos atentos às tendências e que melhoram constantemente a plataforma para que se torne cada vez mais viciante ao público.

O algoritmo da rede social é tão inteligente que opera de forma a captar os principais gostos dos usuários e indicar conteúdos que certamente vão lhe agradar. Unindo a inteligência do algoritmo ao sistema de rolagem infinita, o TikTok tem a receita viciante perfeita: um eterno looping por vídeos que te fazem rir, trazem dicas interessantes ou mesmo as populares dancinhas que surgem com as trends na rede.

O usuário tem um papel fundamental em informar, inconscientemente, o que gosta ou o que não gosta ao algoritmo. Enquanto os vídeos são exibidos, o usuário tem a opção de interagir com ele, seja com uma curtida ou descartando e partindo para o próximo. Como os vídeos são curtos, em um rápido período o algoritmo aprende muito sobre as preferências do usuário.

Diferente de outras plataformas de exibição de vídeos, como o YouTube ou sites de streaming, a diferença primordial no TikTok é justamente a rapidez. Em poucos minutos o algoritmo sabe muito sobre o usuário exatamente por interagir com ele rapidamente. No YouTube é preciso muito mais tempo para que a plataforma conheça e recomende novos conteúdos.

 

Informação de qualidade leva tempo para ser processada

 

Além dos danos já mostrados pelo estudo da Microsoft, a perda de conhecimento é grande quando há escassez de atenção. Isso porque informação de qualidade leva tempo para ser processada. Ao ter acesso a algo novo é preciso ter reflexão, experimentação (que envolve erros e acertos) e interação. E é claro que isso envolve tempo.

Então, sem tempo hábil e com mais informação chegando a todos instante, se torna um tanto quanto difícil aprender algo novo e com qualidade, não é mesmo? Se desejamos nos informar com qualidade e obter mais conhecimento, é preciso dar tempo ao tempo.

Por outro lado, o estudo da Microsoft também mostrou que utilizar múltiplas telas e ter acesso a informação de forma rápida deixa os usuários com um perfil mais curioso. O usuário está cada vez mais receptivo para novas ideias, tem sido bom em realizar muitas tarefas ao mesmo tempo e tende a possuir uma boa memória.

Supondo que a forma como nos comunicamos e as redes sociais estão em constante transformação, a "tiktokzação" está apenas começando. A história da humanidade sempre se transforma ao passo que os meios de comunicação se transformam. Um dia foram a TV, o rádio e os jornais impressos que moldaram nossos comportamentos. Hoje, é a internet e sua grande rapidez.

Mas vale sempre lembrar que a mente humana não acompanha a rapidez das telas e dos algoritmos e que algumas informações ainda precisam ser absorvidas de maneira tradicional, com tempo, cautela e muita reflexão.

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